18/11/08 - 23:02

Estavamos em três: eu, Renan, um senhor alto, com um formoso bigode bem cortado, vestindo um terno amarrozando de veludo, gravata escura e um chapéu fedora também amarronzado e Pedro, um senhor vestindo um suave terno de lã-fria, de um cinza claro, com o cabelo delicadamente colocado em forma de rabo-de-cavalo. A cara limpa, sem nenhuma cicatriz. Sentavamo-nos à mesa, esperando o jantar.

- Então, senhores, que me contam? – Perguntei, adiantando-me.
- Bah! – rugiu Renan – As coisas estão difíceis na escola.
- Que se passa? – perguntou Pedro.
- Aquelas crianças, elas não aprendem, estão lendo o que não devem.
- Sempre foste muido do conservador, mesmo, não, senhor Renan? – Perguntei, com um sorriso.
- Conservador o diabo! O que fiz foi prezar pela boa literatura. Aliás, li um livro maravilhoso estes dias. Não recordo-me de quem, mas era um Italiano. Ah, a Itália, um país que sempre quis visitar. Lindo.
- Sem dúvidas.- respondeu Pedro, levando o garfo à boca.
- Me conte, Pedro, como vai aquela rapariga com quem tens te encontrado?
- Ah! Em nada!
- Como assim, em nada?
- Ela voltou para o marido.
- Era casada a moçoila? – perguntou Renan, em tom de novidade.
- Sim, sim. – disse Pedro, com atraso. – Descobriu que gosta do tal marido.
- Mas te aproveitaste dela, não?
- Até a última gota, meu querido.
- Por isso és o Pedro, rapaz.

Continuamos em nossos assuntos triviais até tarde da noite.Então pedimos o vinho. Tiramos nossos paletós e rimos com as piadas e interpretações de atores famosos de Renan. Ao fim da terceira garrafa de vinho o restaurante preparava-se para fechar.

- Não estou afim de ir para casa. – Disse eu, em voz de tédio.
- Nem eu.
- Muito menos eu.
- Para onde vamos então? – perguntei, com um sorriso malicioso esboçado.
- Ué! – disse Pedro, sem rodeios, bem alto – Para o cabaré, oras! Tem uma moça lá com quem venho flertando na rua, mas pelo visto só com dinheiro.
- Trouxeste bastante?
- O suficiente para a noite.
-Amigo! – gritei para o garçom – Mais uma garrafa deste fino vinho, para a viagem!
- Sim senhor.

Pegamos o vinho e saímos pela rua. Boêmios na noite de sexta-feira. A rua adormecia com a imensidão escura do céu noturno, enquanto nossas silhuetas passavam, balançando, meio embriagadas e felizes, cantando bem alto uma das diversas músicas que ouvíamos juntos, enquanto pedro cantarolava descontraídamente a melodia:

Ei, mamãe
veja o modo como você se meche!
Vou fazer você dançar
vou fazer você entrar no rítmo!

Três cavalheiros alegres, sempre unidos, como os mosqueteiros. Chegamos ao bordel. O cheiro de perfume francês tomava o lugar. A luz vermelha e tosca fazia-se presente. Um calor gostoso vinha de lá de dentro, enquanto éramos todos envoltos por uma sensação gostosa provocada pelo riso feminino das moças ali, tão brancas, lindas e tocáveis.

- Ah, meus senhores. – disse Renan – É neste momento em que vejo que o paraíso não está longe.
- O paraíso está em dois montes esbranquiçados – disse Pedro
- Com pequenos acidentes geográficos róseos – completei.

Rimos sonoramente. Os sorrisos vermelhos de batom das moças vieram se aproximando. Sentamo-nos à uma mesa, a noite havia de ser longa, com muita diversão. Pegamos a garrafa de vinho. Bebíamos no gargalo, enquanto as moças, em seus vestidos de renda vinham sentar-se aos nossos colos. Ríamos e bebíamos mais. Uma sensação de entorpecimento gostoso tomou conta de nós. Estávamos de fato do paraíso? Era quase gostoso o suficiente para a afirmação ser plausível! Conversamos trivialidades e ríamos sonoramente, os três, cada qual com uma moça.

E a noite corria divertidamente, enquanto nossos risos faziam-se presentes, percorrendo os arredores, as ruas inteiras da cidade, entrando nas casas das pessoas que dormiam seguramente, contentadas com a chegada do fim de semana, em seu merecido sono.

Pelas três da manhã levantei-me da cadeira. Três garrafas de vinho repousavam vazias sobre a nossa mesa. As moças já estavam “quentes”, como díziamos. Estavam entorpecidas e felizes, prontas para nos dar o melhor de suas pessoas. Seus seios pendiam para fora dos vestidos: já haviam perdido o pudor. Estavam embriagadas, mas não muito, ainda podiam sentir a sensação, podiam sentir o sexo percorrendo como um raio pelos lençóis da cama. E seus gritos de prazer se fariam sonoros pelo bordel todo.

- Então, senhores. Não posso mais deixar esta bela moça a esperar. – disse.
- Por favor, também estamos indo – disse Pedro, com uma voz risonha. Estávamos todos embriagados também.
- Por favor, cavalheiros, acompanhem-nos – disseram as moças.

Seguiram por um corredor que dava em diversas portas. Cada casal entrou em uma porta. O final de noite prometia muito, prometia sensações de prazer, risadas e felicidade. Nada melhor do que isso, nada melhor do que sentir-se humano, nada melhor.

1 comentários:

Ruiva disse...

Santo Deus, que delicia de texto. Ri de verdade! Eterna fã desse escritor, não adianta.
Bjos