15/02/08 - 22:55

Alguma hora da madrugada esquecida de Porto Alegre, nós subimos a vicente da fontoura até o posto de gasolina para comprar cerveja. Eu tenho 20 reais no bolso, Pete 10 e Francis 2. Minha vó dorme calmamente no seu quarto. Compramos algumas cervejas e uma cerveja preta, mais pelo prazer de comprar uma cerveja preta do que qualquer coisa. Empino a garrafa e tomo um gole longo e amargo de cerveja. O gosto fica na minha boca, enquanto o líquido desce ao meu estômago, na tentativa de apagar o passado. Minha namorada estava atrasada, ela havia ficado com as minhas coisas e devia trazê-las para mim no final da tarde. Depois que nós damos um pé na bunda delas, elas são a melhor coisa desse mundo, esnobes com o nariz tão levantado que nem conseguimos ver.

Minhas bochechas estavam ficando dormentes, enquanto conversávamos na frente do meu prédio, falando sobre a vida. A fina melancolia paira no ar embriagado da noite, e logo logo toda as aflições acabam e tudo vira um presentismo muito gostoso de se viver. Toda a conversa vira apenas um borrão, um borrifado de humanidade que é jogado nas minhas bochechas dormentes e não consegue penetrar. Nunca me senti tão sem vontade de morrer, apesar daquele horrível sentimento de sempre haver uma barata percorrendo o meu corpo.

“Vamos entrar” diz alguém.
“Vamos, sim.”

Ficamos em um quarto conversando. As paredes, testemunhas de risadas e enjôos, brancas como neve, permanentes. Logo tudo vira sono, tanto sono que é difícil manter-se acordado. Não importa como se dorme, o importante é dormir. Os pássaros cantam uma nova manhã, o seu joga a escuridão para trás e aquele azul escuro e fosco preenche a vista da minha janela de persiana. Vou dormir.

Acordo com meu estômago me mandando à merda. A cerveja preta que foi intragada quer voltar. Que coisa estúpida. Vou ao banheiro, Pete já vomitou, Francis parecia estar ridiculamente bem. Minha vez de vomitar. Não consigo. Nada sai. Fecho a tampa do vaso e deito-me no sofá.

Os três deitados no sofá, olham para o teto, derrotados pela ressaca. A sensação de dormênia virou o sentimento gerado por um soco na cara. A invencibilidade e vontade de viver viraram um inclinamento absurdo ao suicídio mental: de volta à realidade. Fecho os olhos, a sensação é gostosa. É como um sonho. Resolvo não abrir os olhos.

Os dois vão embora e permaneço deitado, sem minhas coisas, minha namorada, ou ex-namorada ainda está atrasada.

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