27/07/08 - 01:46

Relato de um poeta sem inspiração preso em seu quarto em uma noite por uma mosca que cagava na cama.


Perdido, preso em um quarto sem perspectivas nem esperanças. Tentando sair, se libertar, impossibilitado de se mover, sendo observado pelos livros da parede, realistas, românticos, naturais, observando-o, em coro, vendo cada um de seus movimentos. Ele estava ficando louco, estava ficando paranóico, procurando na astronomia, na astrologia, em todas as ciências que poderia pensar em uma estética nova, uma rima diferente, uma forma incrível, para sua vida, para seus amores, para seu desespero. Estava desesperado, estava descontente. 70%. Esmagando tudo contra a parede, esmagando tudo contra a mesa, esmagando tudo contra tudo, tentando encontrar uma forma magnífica ou genial. Começava a suar. Suava letras, acentos, tentando colocar na mesa, na maldita mesa, no papel sobre a mesa. Nada parecia encaixar. Tudo parecia manchar horrivelmente a brancura pura e límpida daquele papel. Pior do que Lúcifer, pior do que Calígula, do que Nero. Ele estava POLUINDO aquele papel. POLUINDO O PAPEL. Eu poluo, tu poluis, ele polui. Ele poluía sem dó, sem escrúpulos. Estava enganando a si mesmo. Estava enganando o lustre sobre sua cabeça. O lustre que o fitava, fitava aquela afronta à frente dele. Ele estava sendo denunciado pelo lustre e pela parede. Pela máquina de escrever. Pobre máquina, sendo mutilada contra a vontade. Ela não estava consciente de suas ações, não estava. Nós não estamos quando as fazemos. Sartre. Sartre sabia escrever, eu não, pensava. Mas não devia desistir, devia continuar. Se não continuasse morreria afogado. Tentou correr. Estava colado à cadeira, não conseguia se mexer. Fazia esforços mentais. INÚTEIS. INÚTEIS eram seus esforços mentais. Ele tentou desistir. Mentiu para si mesmo que devia desistir. Não conseguiu, voltou à verdade, era politicamente correto. Não era como um acorde de guitarra, não era elementar, era algo além disso, estava em outra galáxia. E tentou entrar em um escafandro poético para mergulhar em águas que nunca viajou, mas apenas poluía papel, poluía mais e mais papel, e jogava fora, e matava árvores. E enquanto isso o mundo girava, mas ele não conseguia parar de sujar o papel. DROGA, DROGA, PARE DE SUJAR O PAPEL. Foucault, Freud, Beauvoir. Estes não sujavam o papel, apenas eram idolatrados por seus lustres. Aquele havia sido abençoado pelo seu, que resolvera queimar a lâmpada, para evitar que aquele ser fosse afogado. Queria ser aceso muitas e muitas vezes.


O ser havia se salvado, havia escapado do afogamento, desta vez.

1 comentários:

gmm disse...

teu texto ta surtado!
tsc tsc. onde esta a moral e os bons costumes?

hahahhaah
achei tri cara!