06/11/08 – 14:43

Vocês querem saber como eu cheguei aqui? Tá bom, eu lhes digo. Estou tão puto da cara que faço questão de contar pra vocês. Começou tudo nessa manhã, eu já não estava muito afim de acordar, mas aquele despertador não me dava uma trégua, quanto mais eu tentava não ouví-lo, mais ele parecia tocar. “Tá bom, Deus, você venceu, alegre?”. Fui escovar os dentes e me vestir. Estava com tanto sono que ainda nem conseguia abrir os olhos direito.

Saí de casa, me identifiquei muito com o sol naquele momento. Ele parecia estar com uma grande cara de cu dizendo “pára, não quero acordar, não quero acordar!”. O céu tinha algumas nuvens, feio para variar. Na verdade, não há nenhuma pincelada de romantismo ou lirismo no sol das seis da manhã, mesmo que não haja nuvens. Acho que as mentes não funcionam às seis da manhã.

Cheguei na esquina, perto da parada, e então Murphy resolveu dar o primeiro sorrisinho do dia pra mim: o ônibus ia passando, virando a esquina. “Ah, porra, não dessa vez”, não sei o que me deu e disparei atrás do ônibus. Não ia deixar as máquinas me vencerem desta vez. Corri uma quadra toda. Ao final dela eu não conseguia nem respirar direito, mas pelo menos peguei o ônibus, que estava lotado, claro. Imagino o que tantos velhos vão fazer às seis da manhã. Aquele maldito ônibus tinha mais velhos do que um asilo, e como a humanidade inventou duas coisas chatas pra caralho chamadas “moral e bons costumes”, eu não podia sentar-me em um banco, porque senão vinha uma velha pedindo um espaço. Quem disse que velinhos são bem educados? São mais ogros do que eu e você, na maioria das vezes.

Cheguei à maldita escola. A melhor parte é que a escola nunca me surpreende, é sempre uma droga, então não precisei me preocupar com isso. Nunca é algo decente, é sempre ruim, então eu não espero que nada de decente possa vir de lá. Dormi mais da metade do tempo lá dentro, porque a escola é minha segunda cama. Saí da escola e Murphy deu o seu segundo sorrisinho: o ônibus passava pela parada novamente. Não ia correr de novo, fui para casa a pé, embaixo de um sol tão quente, mas tão quente que podia-se fritar um ovo no meio da rua.

Era quarta feira, e em todas as quartas feiras eu me lembro que a humanidade invetou uma terceira coisa terrível, mais terrível do que a moral e os bons costumes: sexto período. É, eu teria aula de educação física à tarde, embaixo de um sol fritante. Voltei para a maldita escola, o ginásio estava uma fornalha.

O filho da puta do professor fez questão de foder com a gente: ou jogava para valer, ou fazia boxe. Já que eu não sou nenhum monstro, resolvi jogar para valer. Ao final da aula eu levava uns cinco minutos para andar 50 metros. A dor era tão grande que eu mal conseguia me mover.

Cheguei em casa, a pé, claro, porque o ônibus estava dobrando a esquina quando eu ia pegá-lo, e fui lembrado de que teria duas provas no dia seguinte. Minha namorada brigou comigo e caí na banheira, enquanto tomava banho. Desmaiei, e bloqueei o ralo, a água ia preenchendo a banheira cada vez mais, e eu ali desmaiado. Depois de uns 20 minutos a banheira estava totalmente cheia e eu estava mergulhado nela, desacordado. Sim, eu morri, e isso deve ter feito um monte de gente contente. Não era melhor do que monóxido de carbono, ou um tiro na testa, mas eu estou no paraíso de qualquer maneira, e, bem, não é muito legal não.

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