5/11/08 – 13:41

O senhor Lewis Carroll chegou em casa, depois de uma tarde de autógrafos de seu mais novo sucesso “as aventuras de Alice no país das maravilhas”. Pedurou seu casaco e sentou-se em seu sofá para descansar. Nem acreditava que há menos de uma década não possuía metade do dinheiro que residia em sua conta bancária agora. Deslumbrado com seu próprio sucesso, esboçou um sorriso de contentação. “Enfim contente” pensou.

Levantou-se e foi para o banheiro, ia tomar um banho. Já dentro da banheira, relaxando seus músculos, ouviu um barulho estranho, como se uma porta tivesse se fechado. Estranho, pois estava sozinho em casa. De fato, morava sozinho. Vestiu seu robe azul escuro e cautelosamente esgueirou-se para fora do banheiro. O corredor à sua frente o conduzia para a sala de estar, de onde viera o barulho. À medida que se aproximava podia ouvir mais nitidamente alguns ruídos. Vozes, uma voz de alguém pequeno, como um anão. Encostou-se na parede e colocou um pouco da cabeça para fora, a espiar o que ou quem estava falando na sala. Ficou atônito com o que viu: um coelho usando um casaco de couro, dizendo “vou me atrasar!”, “não posso me atrasar”, enquanto parecia procurar uma saída para algum lugar.

Ficou quieto, assistindo o personagem de sua própria história na sua frente, ainda não acreditando no que via. Então o coelho abriu uma das cortinas e de repente havia uma portinhola escondida ali, atrás da cortina. Uma portinhola da qual Lewis nunca havia se dado conta. O coelho rapidamente foi para dentro da portinhola. “Entrarei em um mundo que eu mesmo criei se seguir o coelho?” pensou. A curiosidade era tanta que nem deu-se tempo para ponderar sobre a pergunta e esgueirou-se pela portinhola, que fechou-se com um estrondo assim que sua cabeça havia passado pelo buraco.

Era quente e pouco iluminado lá dentro. A reta ia sempre em declive. Conseguiu ver o rabo do coelho, peludo e branco balnçando enquanto o coelho seguia o corredor. Arrastou-se atrás do coelho. A curiosidade o tomando cada vez mais. Quanto mais seguia o pequeno coelho, mais podia ver uma estranha porta no fim do túnel, azulada com maçaneta de um vermelho brilhante. “Estranho, não recordo-me de ter escrito a história desta maneira” pensou. Talvez estivesse em alguma variação da própria história. Estava curioso demais, ansioso demais para saber o que estava por detrás daquela porta para ponderar sobre quaisquer teorias. À medida que se aproximava, ia ficando mais calor, como se um enorme calor viesse de dentro daquela porta.

O coelho seguia sem parar, e estava quase chegando à porta. Seus passos apressados ecoavam pelo assoalho de metal do corredor. O corredor inteiro parecia ser de um metal escuro e pouco brilhoso, e aquilo deixava o ambiente muito quente. Senhor Lewis suava. No meio do caminho viu outra portinhola, desta vez para cima, como se fosse uma saída. Tentou abrí-la para tomar um pouco de ar e secar seu suor, pingava sem parar. Não conseguiu, a maçaneta de cor escarlate nem sequer movimentava-se com o esforço de Lewis.

Não tinha opção senão seguir. Parou por um momento para ver o coelho entrar, mas ao invés de o fazer, o coelho simplesmente desapareceu em frente à porta, como se a tivesse atravessado sem abrí-la. Curioso! Curioso demais! Ele precisava seguir para saber o que estava lá atrás, naquele calor! Agora ia com pressa, ignorando a elevada temperatura. O metal à sua volta ficava quente. Usava a robe para cobrir os joelhos e mãos.

Enfim chegou à frente da porta. Imaginou toda a experiência e o que poderia tirar daquilo! Genial! Ficaria ainda mais rico com uma experiência como esta. Foi o último pensamento que teve antes de ser tomado por total curiosidade e abrir a porta. Girou a maçaneta vermelha, em forma de cristal lentamente. Um barulho fez-se ecoar por todo o corredor. Olhou para trás, para certificar-se de que não havia nada atrás de si. Nada. Na verdade, mal conseguia ver o ponto de onde veio, dada a pouca iluminação do ambiente. Puxou a porta lentamente.

Com a porta totalmente aberta, virou sua cabeça para dentro do cômodo recém descoberto. Lewis não conseguiu ver nada além de uma grande bola feita de fogo brilhante em sua frente, e o coelho ao seu lado, com uma machete ensangüentada na mão e um sorriso maníaco. Os dentes podres e vermelhos de sangue. Ao seu lado descansavam os restos mortais de uma menininha de cabelos loiros e um vestido azul. Escapu-lhe um grito de pavor, reconheceu Alice de sua história, mas foi a última coisa que conseguiu fazer antes da enorme bola de fogo virar uma labareda e vir em sua direção, incinerando-o, enquanto o coelho ria doentiamente.

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