12/11/08 – 21:50

Era um forte candidato a ser contratado, disse-lhe o professor. Era difícil naquela época ser contratado: milhares de pessoas prestavam o concurso. O maldito concurso para o qual ele passou um ano estudando. Sentiu-se feliz por um momento. Mentira. Sentia-se radiante, tão radiante que ao invés de caminhar, correra para a parada do ônibus.

- Eu vou ser o melhor estudante dessa porcaria, vocês vão ver, seus malditos! – Pensava. Pensava sem parar. Não conseguia parar de mover-se e pensar nas palavras do professor.

Entrou no ônibus. Um ônibus azul que levava para o centro da cidade. “O ônibus azul que leva para o inferno” dizia um mendigo, com um sorriso melancólico ao fundo do ônibus. Não teria onde dormir hoje, chegara atrasado ao albergue. Perambularia pelas ruas o máximo possível, para tentar esquecer o frio do inverno. Quente em seu casaco, ainda com as palavras do professor na cabeça, via o mendigo, e toda aquela sua glória mostrava-se tão frágil. Reparava nisso, era tão frágil, tudo era tão frágil, a vaga, o mendigo, o albergue, o inferno…

Entrou no ônibus uma mulher com cinco crianças. Mais da metade do caminho ela ficou suplicando para o cobrador uma chance, para passar sem pagar pela catraca. O cobrador não queria deixar. O dinheiro da passagem sairia do bolso dele. Ele precisava sustentar sua mulher seus três filhos. Todos temos demônios para sustentar.

Quase arrasado, chegou em casa. Viu seu pai, quase morto, devastado por um câncer terminal, gemendo de dor, dando um suspiro, esperançoso para que fosse o último. O professor parecia haver morrido nos seus pensamentos.

Sentou-se no sofá e olhou: uma, duas, três alegrias que passaram e ele nem sentiu. Quatro, cinco, seis. Como fugir daquilo? Sete, oito, nove. Foi dormir, talvez só assim não veria a vida fugindo-lhe pelos dedos…

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