30/11/08

O carro não pegou. Mentira, pior do que isso. Eu quebrei a chave do carro enquanto tentava abrir a porta. Sorrisos celestiais, como grandes cubos de açucar cristalino. Tudo bem, acho que dá para ir a pé, de alguma forma tem que dar. Choveu ontem, as sarjetas ainda estão cheias de água. A rua é estreita. Um ônibus vem vindo. Oh droga. Alguns segundos passam. Oh droga, acabei de ganhar um banho grátis. Sorrio irônicamente para Deus, olhando para o lado.

Alguma coisa me diz para ir em frente. Sigo a ordem e continuo descendo a rua. A rua é longa, é a rua mais longa do caminho que faço para o trabalho. É chata e estreita. Olho para o céu. Alguma coisa está estranha. O céu está escuro demais. O despertador estava errado, acordei uma hora antes. Oh, céus. Tenho uma hora para gastar. Entro numa lanchonete.

- Bom dia, o que posso pegar para você?
- Uma xícara de café.
- Qual é a palavra mágica?
- Eu te amo?
- Não
- I love you?
- Não
- Por favor?
- Em outra língua.
- Please?
- Não.
- Não sei.
- Si vous plais.
- O que diabos?
- Francês.
- Mas como eu ia...
- Tudo bem – me interrompendo – as outras tentativas são válidas.

Garçonetes fazem graça de mim. Nada divertido. O café, apesar de tudo, estava bom. Não se pode reclamar de tudo. Paguei, só tinha uma nota de cinco, o café era um real. O troco veio em moedas de 50 centavos. Desci pela rua. Molhado pelo banho do ônibus. O céu e a garçonete gracejavam. A língua marrom de café. O mundo não iria acabar.

Desci pela rua. O grande vencedor de todos os dias descendo pela rua. O anti-herói (sem querer) descendo pela rua.

Quem quer ser o anti-herói no meu lugar?

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