26/02/09 - 03:20

A madrugada não é esquecida, porque todos lembram dela. Ela que nos esquece e nos larga a esmo em pensamentos e lugar onde não gostaríamos de estar. Estamos todos desesperados atrás de algum tipo de felicidade, alguma solução logo ali na esquina que não conseguimos alcançar, mas continuamos seguindo ininterruptamente, caindo várias vezes no chão, cada vez mais longe da esquina. Sentimos o aroma, o sabor e as cores de tudo aquilo que é bom, mas quando conseguimos chegar na esquina é como se tivesse cheiro de merda e fosse preto e branco.

É sempre muito chato quando o bom-senso se vai embora, junto com todo o êxtase de algum sentimento de alegria, e isso torna as manhãs onde nos deitamos alegres de termos feito algo bom são raras. É como jogar strip-poker mas nunca perder. Ninguém nunca perde, logo ninguém tira a roupa, logo ninguém se diverte, logo, depois de um tempo, ninguém mais está curioso para saber como o outro é por debaixo das coloridas blusas rosas, azuis, amarelas ou verdes. Então quando finalmente alguém perde, ninguém mais liga para os seios rosados ou os braços torneados.

Sinto-me como um grão de areia, todos somos pequenos grãos de areia no topo de dunas imaginárias, balançando nossos braços e pernas imaginários, olhando para um céu imaginário, tentando nos tornar algo imaginário mais decente, tentando nos tornar uma pérola imaginária. Termos uma beleza e utilidade imaginária.

Para quem passa as madrugadas e as paritdas de strip-poker correndo atrás daquela esquina muito iluminada com aquela gostosa com aroma doce e cores vibrantes prestes a se tornar fedorenta e descolorida, boa sorte. Outros sentam-se no chão e brincam com as pedras e fazem delas, seus obstáculos, suas tristezas, suas vidas. Outros preferem nem pegar esse caminho, e descobrir o que tem na direção contrária. É como contrariar um sonho. Uma coisa muito ruim pode acontecer. Uma coisa muito boa pode acontecer. Mas qual é a diferença quando sabemos que no final o sonho cheira a merda?

1 comentários:

danielandin disse...

A madrugada é como a cidade - na verdade, desconfio de que sejam irmãs -, meu rapaz: uma mulher de pernas abertas.