05/08/09 - 23:35

Às vezes aproveitar as coisas simples que a vida coloca na nossa frente parece ser tão ridiculamente fácil que se torna difícil, de um certo modo. Caminhavam pela rua, conversando.

- Cara, sinto-me como um porco solteiro.
- Te entendo.
- Quero dizer, vou chegar em casa, pegar uma cerveja e sentar na frente do computador. Acho que um porco solteiro sentaria na frente da TV.
- Não, nós somos a geração do computador, a da TV foi a dos nossos velhos.
- Ah, sim, verdadeiros mártires.

Se despediram e separaram-se. O porco dobrou à direita e então começou a caminhar, a quadra era longa e as nuvens foramavam um bonito desenho com o céu. Era uma daquelas noites em que a gente só queria caminhar e deixar que nossas pernas nos guiassem. Passou por um bando de infortunados maloqueiros, em frente à uma praça, enquanto colocava a mão nos cabelos crespos.

- Ei! É piolho! – Disse um deles, enquanto passava um baseado e todos riam a sua
volta.
- Cabeça de microfone! – mais risadas.
Seguiu caminhando. Em parte porque não ligava e em parte porque realmente não podia lidar com várias pessoas de uma vez só. Caminhava a passos lentos, ainda um pouco longe de casa. Parou num bar para comprar uma lata de refrigerante. O lugar caía aos pedaços. A dona caía aos pedaços. A lata de refrigerante parecia estar bem, apesar do estranho gosto de cítricos num refrigerante de cola. Tudo bem, a noite estava realmente agradável e um refrigerante estranho era um preço relativamente baixo a se pagar.

A longa avenida seguia vazia. Maloqueiros e derrotados escondiam-se pelos cantos, sentados, esperando por nada, com uma cara de derrota: todos deviam lidar com o próprio inferno. Contornou a esquina e seguiu caminhando, dessa vez estava em uma rua realmente vazia e pouco iluminada, sentiu-se bem. Olhou para cima e viu uma cruz brilhando em neon azul, e mais atrás uma antena de aviões cintilando em vermelho à frente do acinzentado das nuvens. “Só eu vejo uma ironia nessa imagem?” pensou. Provavelmente sim. Se sentia vivo em muito tempo, como em um momento de êxtase, uma felicidade impenetrável, a passos cada vez mais lentos, chupando o misterioso líquido pelo canudo verde.

Cantarolou pelo resto do caminho. Passou por uma igreja e uma floricultura. De repente tudo parecia irônico ou fazia algum segundo sentido muito estranho. Uma igreja e uma floricultura, hum...

Chegou em casa, foi ao banheiro e tomou um banho. Pegou uma cerveja e sentou-se na frente do computador. Se sentia um porco solteiro. Era um porco solteiro. Estava contente com isso...

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