13/09/08 - 16:50

Muitos queriam estar no lugar dele. Já ele, por outro lado, adoraria não estar ali. Descobriu que o mundo lá fora não era tão grande assim, na verdade, era tão baixo quanto sempre foi sua vida toda, enquanto cresceu na Santana esquina com a Vicente da Fontoura. 

Desceu a Rue Cardinal, depois passou pela Nègre Joyeux, parou para tomar um café. O céu era sempre a mesma bosta. Uma coisa que seus conterrâneos sempre se esqueceram sobre o céu de Paris: era sempre a mesma bosta. Estava sempre ameaçando chover, e nunca chovia, era sempre apenas uma pequena chuviscada, com sereno à noite. Naquele dia, para variar, o céu estava com aquele nublado nojento de sempre. 

Terminou o café e levantou-se. Pagou a conta, deixou uma gorjeta e seguiu lentamente pela Joyeux. Não tinha pressa, nem esperanças. Não tinha pressa e muito menos esperanças. Pensou no que jantaria. A mesma porcaria européia de sempre. Agora ele entendia porque o exílio não era tratado com tanto louvor em livros e poemas. Se sentia um grande nacionalista, embora nunca fora um. Na verdade, sempre quis se mandar do seu país. Agora via o doloroso erro que havia cometido e queria voltar para casa. 

Chegou ao hotel, subiu para seu quarto. Passou pelas suas pinturas: ainda tinha um monte para terminar. Não se sentia motivado. Nada o motivaria, com aquele céu dos infernos. Deitou-se e apagou a luz. Ficou olhando fixamente para o teto, tentando dormir. Não tinha pressa, nem esperanças. 

Resolveu se levantar. Queria divertir-se um pouco. Chamou uma poule. Não ajudou muito, Pagou pelo serviço e voltou para o hotel. Ficou deitado. Sem esperanças... 

2 comentários:

gmm disse...

"morar no brasil é uma merda, mas é bom. morar fora é bom, mas é uma merda." Jobim.

Isadora Machado disse...

opa! cadê as tuas crônicas informativas? isso é só para subestimar os que só conseguem escrever(leia-se escrever BEM) um estilo, acertei?
ai que saudades que eu estava de ler as tuas coisas, digo, "te ler". um texto que de longe soa formal e rebuscado.. quem lê desprevinido leva um susto tremendo no primeiro bosta. essas tuas desarmonias harmônicas dançando entre a forma culta e a vulgaridade.. melhores que as tuas jamais li.(não que eu seja algo que se possa chamar de leitora assídua, ainda mais de coisas assim)
enfim, me deixa ir.. tenho outros textos pra ler aqui em baixo :D