01/10/08 - 21:52

Floresce tudo pela cabeça. Acho que se eu não tivesse idéias seria melhor, se eu não tiver idéias é melhor para todos, se vocês me entendem. Acendi um cigarro e desci pela Santana, com a mala na mão e a mochila nas costas. Tinha 50 pila, idéias na cabeça e precisava arranjar um emprego. Continuei descendo e encontrei uma pensão. Entrei, a dona era uma senhora de cabelo branco que me lembrava uma daquelas mexicanas invocadas. Paguei uma semana adiantada e ainda fiquei com 30 pila. Saí pra rua, precisava de um emprego, precisava ser um cara honesto e trabalhador, como todo mundo descente que quer morrer feliz e ter filhos. Mentira, eu estava fodendo para a moral e os bons costumes. Queria ser um escritor e talvez, mas só talvez, honesto. Em compensação, estava cansado do grupo dos escritores. Um bando de caras que está sempre junto porque nunca tem coisa melhor para fazer, sempre encarangado em um canto, falando sobre literatura, porque nunca lhes foi apresentado algo que merecesse um mínimo de interesse deles além da literatura. Desnecessário lembrar que todos eram virgens. Precisava de uma mulher também.

Continuei seguindo pela Santana, chegava perto do parque, quando vi uma ruiva que passava. Conversamos meia hora sobre coisas fúteis, ela se revelou feminista, dentro das pessoas cultas e alternativas de Porto Alegre que me enchem o saco e foi embora. Depois me deu o telefone dela e eu joguei fora, dificilmente ia comer ela. Cheguei ao ponto mais agitado do parque e me lembrei de que não devia estar ali, porque aquele pessoal careca, com óculos e roupas descoladas estava lá, falando de filosofia, normalmente girando em torno da pergunta de grau e cunho filosófico mais alto que eles jamais atingiriam com suas roupas e caras: ‘como tem gente nesse mundo, né, meu?’ A vida de escritor era um saco, comecei a pensar em arranjar um emprego que tivesse menos má-fama do que escritor, talvez atendente de um e 99 me ajudaria.

Fui para casa, comi alguma coisa picante e temperada que a velha mexicana me serviu, vi um amigo que morava ali por perto, conversamos sobre a dificuldade das coisas e como era morar sozinho. Ele ainda morava com os pais, e era mais velho do que eu, que tinha 18. Entrei no meu quarto, tirei meu chapéu e comecei a escrever alguma coisa, ao som de algum CD que eu tinha ganho de alguém. Pois foi a melhor parte do dia para mim, senhores, e, querem saber? Eu excluiria todo resto, e, sinceramente, fiz isso, podem o fazer também.

1 comentários:

gmm disse...

"Floresce tudo pela cabeça"
só isso.