19/10/08

For P.

Topei com o P. na rua. Não tinha pressa, andava sempre igual, com Ray Ban e um caminhar de rock star mais ou menos fajuto:

- E aí, cara – cumprimentei-o.
- Fala, cara. Tudo bom?
- Tudo sim, e contigo?
- Sei lá, acho que estou em Stand By.
- Que Significa?
- Nenhum sentimento, me sinto vazio.

Parei e pensei. Uau. Quem me dera eu não tivesse nenhum sentimento.

- Pra onde tu tá indo? – Perguntou
- Sei lá, e tu?
- Pra casa, mas não quero.
- Vamos caminhar pra algum lugar.

Não tinha problemas para sair com as pessoas. Não entendo porque todo mundo acha que escritores têm que se sentir sozinhos e odiarem o mundo. Tudo bem, eu odeio o mundo, mas sentir-se sozinho é uma coisa opcional, e tá sempre enxendo o saco. Tá bom, deixe-me voltar ao texto. Entramos em uma lanchonete e nos sentamos.

- Bah, cara tenho uma boa – Disse ele.
- Manda.
- Eu tava na casa daquela guria que eu comi, sabe?
- Sei
- E aí tava um primo de merda dela, saca?
- Tá, saco. E aí?
- E aí que o cara tava com uma guitarra e ficava tocando e falando, e eu ali louco pra fazer alguma coisa.
- E tu não deu umas nele?
- Não, ele falava que tinha sido expulso da banda dele, e que ele ia pegar os caras, depois ia ficar melhor do que eles.

Dei uma calma risada.

- Aí, eu ali, louco pra fazer alguma coisa e ele ali, né. 
- Tá, e o que mais.
- Não, saca só, agora é a melhor parte. Do nada faltou luz, e o cara não parou de falar. E adivinha o que eu fiz?
- Meteu uma nele?
- Não, peguei a guria ali mesmo, no escuro.
- E o cara ouviu?
- Não, ele tava tocando guitarra.
- Puta merda.
- É, aí eu quase comi a guria, mas claro que não ia dar pra fazer sexo.
- Tu tinha que mandar o cara à merda, meu.
- Pois é, pois é. E tu me conta o que?
- Nada, cara, eu to na mesma, sempre na mesma
- Tu é tranqüilão, cara.

Eu podia dar um milhão de respostas que justificassem o fato de eu não ser “tranqüilão”, mas escolhi a melhor delas:

- Aham.
- Escuta, tá afim de tocar amanhã?
- Aham, vamos tocar alguma coisa.
- Tá, to indo nessa. Falou, cara.
- A gente se fala.

P. saiu com aquele andar de quase gênio do rock pela rua. Vejo ele como um solteirão eterno, tranqüilão, fumando baseado às quatro da manhã, depois de escrever uma música sobre mulheres. Os primos nunca se dão bem, e as mulheres são traiçoeiras, mas isso até fazermos elas pensarem que nós somos os caras. Eu não sei muito disso, P. sabe mais, afinal de contas, eu não consegui bolinar uma fêmea na frente de alguém sem que ele note. Pedi um refrigerante e P. sumiu de vista.

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