23/10/08 – 23:04

E se um dia me perguntassem
mas você nunca sonha?
eu perguntaria que diferença isso faz
se no fundo todos os sonhos são apenas
o remanescente daquilo que sabemos
que nunca iremos realizar?

E se me perguntassem
se eu gosto de viver
eu perguntaria que difrença isso faz
já que eu não escolhi viver
e, quem me dera pudesse
eu escolheria ser um livro na estante

Eu seria o livro que seria lido uma vez
apenas uma vez, por todos os membros da família
todos os alunos
todos os freqüentadores da biblioteca pública
e ainda assim, não ficaria triste
de ficar em uma estante
exposto à curiosidade humana

E então depois das eras
as traças me devorariam
pouco a pouco
mas talvez eu nem sinta
seria apenas um pedacinho de conhecimento
que já foi passado
e esquecido
por todos

E se me perguntassem porque eu gostaria tanto de ser um livro
eu perguntaria
quem não gostaria de ter a confortável certeza
de que as pessoas curiosas te olhariam, memorizariam
e então te esqueceriam
na semana que vem?

3 comentários:

gmm disse...

demais!
tu ta cada dia melhor, velho.

Anônimo disse...

Sou um livro...com certeza, sou um livro. Com páginas coladas. Um do Nelson Rodrigues talvez.
Parabéns!

Stigger disse...

Cara, o modernismo puro te cai bem, definitivamente. Gostei dessa tua nova onda de pessimismo. Deu um toque genial, bem Braga mesmo, saca?
Mas, cara, me lembras um poema do Vinicius:

"Dialética

É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste..."

Quer dizer... Será que somos tão tristes assim? Poetas são uns fodidos mesmo, né?

auiosauisuias

Gostei.