03/01/12 02:36

- Eu juro por deus, se eu ouvir de novo tu me pedindo pra colocar esse CD do Van Halen, eu vou te enfiar ele cu adentro.

Era tudo que havia restado. O apocalipse zumbi com certeza às vezes parecia bem mais legal na internet. Você acha que vai sair por aí atirando na cabeça de todos os zumbis, mas você já segurou um rifle? Não é coisa pra qualquer um carregar, ainda mais mirar com aquela bosta. Ah, e boa sorte encontrando munição.

Estavam todos apertados em um quarto cujo teto era aproximadamente a altura da calçada, então tinha somente uma pequena janela no topo. A bagunça generalizada com armas e alimentos de todo tipo parecia não incomodar seus habitantes, que, apesar de irritados em outros momentos, estavam bem tranquilos agora. Afinal, tinham toda a heroína de que precisavam.

Um dos integrantes do grupo, outrora estudante de faculdade, perguntou, com olhos de surpresa e medo.

- Esperem aí, quantas seringas nós temos?

Vestia-se com estilo excessivo, ultrapassando a barreira do ridículo, tinha um cabelo enorme e a cara repleta de gordura, cravos e algumas espinhas.

- O que você quer dizer?- Respondeu aquele que parecia ter tomado a liderança.
- Nós podemos pegar aids, você sabe...
- No meio do apocalipse zumbi... sério? Essa é a sua preocupação?

O jovem comprimiu-se e olhou para o chão em tristeza e punição, movimento já comum naquela altura da vida. Todos riram. De fato, só possuíam duas seringas, o que significava que ia ter que rolar uma divisão. O hippie levantou-se:

- Olha, cara, não sou muito a favor dessas drogas farmacêuticas, mas se vou morrer, prefiro que seja alucinando.
- Assim que se fala, agora me passa essa colher – respondeu o líder, enquanto cortava uma tira de borracha.

Começou a aquecer o produto. Haviam concluído que a melhor forma de morrer seria de uma overdose. Todos sabiam onde conseguir drogas, afinal de contas, não é somente hippies que fumam maconha. Foram onde costumava ficar o traficante mais próximo, e depois de muitos cagaços e zumbis, conseguiram encontrar um pacote com 6 kilos de heroína. A surpresa ficou para a planta de cannabis mutada carnívora que tentou comê-los no jardim próximo à entrada. Uma grande decepção para o hippie, que teve seu lema de “paz e amor” abalado com o acontecimento.

Integravam também o grupo: uma ex-professora do primário, de enormes seios fartos que já vinha há horas soltando os peidos fedorentos responsáveis pelo despertar de todos em meio ao sono. Aquele decote já quase não conseguia descer mais pra disfarçar. Uma aluna do último ano do segundo grau desta escola. Uma legítima putinha, que depois de 4 semanas de isolamento e 14 livros da coleção de filósofos alemães presente naquele quarto, havia se transformado em um estranho paradoxo loiro ambulante. E por fim, um cara desempregado que aspirava em fazer letras, filosofia e ciências sociais em faculdades internacionais, mas até aquele momento estava sem um tostão, e não havia feito muito mais do que um ano de administração em uma faculdade particular. Você pode pensar que ele tinha muitos pensamentos interessantes e boas ideias, mas estaria errado.

A primeira dose estava pronta. Foram tomando um por um, inserindo a agulha nas suas veias e deitando no chão, sentindo a sensação de mil orgasmos. Eram distribuídas doses cavalares, que iam fazer a mágica em breve. Ia ser uma mordidinha de mosca, um super orgasmo, e a morte, tudo em 5 minutos. O problema é que durante aqueles 5 minutos, eles alucinaram... e, bem, eles alucinaram como se não houvesse amanhã.

Naquele momento o mesmo pensamento ocorria na cabeça de todos: aquela havia sido uma ótima ideia. Todos estavam tendo uma ótima experiência e iam em paz, sem serem comidos por criaturas horrendas e nojentas. Um deles estava inclusive prestes a abrir uma porta celestial, gigantesca, com uma maçaneta dourada, que lhe permitiria ter uma conversa com ele, o Todo Poderoso, antes de partir por parada cardíaca. Abriu a porta e correu em alucinação e alegria, mas não pode, pois foi interrompido por uma série de anjos, que passaram a entrar pelo quarto cada vez com mais velocidade. Estava impressionado, seria carregado pelos anjos para a conversa com o criador, até que sentiu um dos anjos tirando-lhe um bife da batata da perna. Foi então que reparou na porta que havia sido aberta, e na cagada que ele tinha feito. Mas estava tão chapado de heroína que não deixou de rir enquanto era devorado, imaginando :

Se eu vi anjos, imagino o que diabos os outros viram antes de serem comidos...

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