10/06/12–02:41

2005. O ator entrou na sala de teste bastante confiante. Tinha ensaiado o suficiente, e era um papel relativamente simples de fazer. A academia alemã sabia que era um desafio fácil de ser vencido, e afinal de contas, era um rápido caminho para a premiação, então por que não?

Só o diretor do filme, com uma cara de quem já tinha visto muita coisa na vida. Não estava impressionado, mas parecia disposto a participar do que estava para acontecer. Nas suas mãos o portfolio do ator, o que é basicamente um currículo com um nome pomposo, porque o pessoal da arte não usa instrumentos mundanos. Eles têm testículos de veludo. Começaram pela atuação, porque realmente o portfolio era complementar naquele nível tão baixo de trabalho.

- Certo, transcorreu bem, mas eu preciso ver a cena 32 de novo. – Não se preocupem, ele não atuou em 32 duas cenas de verdade.
- Claro. – E o ator se pôs a representar a cena.
- Ok. Só tive uma dúvida, mas era besteira. Então vejamos... o seu portfolio.

O diretor passou os olhos bem rápido, com a mesma cara de não impressionado. Bem, dessa vez ele realmente não estava. Olhar resumo de ator para filme independente é praticamente inútil, já que a base do negócio é basicamente pegar ou largar. Passou com os olhos tão rapidamente pela folha que até pulou algumas informações. Isto desencadeou uma daquelas mini epifanias que uma pessoa tem em um segundo. O coração aperta e de repente ele se libera porque a gente sabe que caminho tem que seguir, e tudo estará bem no futuro próximo e... bem, acho que o conceito tá bem estabelecido. Se sentiu mal por ter se tornado um diretor relapso e olhou o portfolio novamente com bastante atenção. E então veio o espanto.:

- Porra, espera aí! Que merda é essa aqui?
- O que foi? – Disse o ator, em grande espanto.
- Você só interpretou dois Hitlers?!

Os olhos do ator rolaram para baixo, e ele ficou levemente corcunda, em vergonha.

- Pois é...
- O anúncio dizia específicamente que eu procurava alguém com no mínimo 5 Hitlers!
- Me desculpa. Eu o interpretei uma vez em uma peça na escola e em um filme independente.
- Qual?
- Cyberhitler 7 o retorno de Churchillzila.
- Hm, ele recebeu reviews bastante mais ou menos, pelo que me lembro.

O ator estava sem argumentos. O diretor franziu a testa. Primeiro sinal de qualquer emoção na conversa inteira. Foda-se a epifania. A sua mão apontou para a porta e o dedo feio e cabeludo apontava para a porta. O ator caminhou a tristes passos para a saída.

O diretor preparou-se para chamar o segundo candidato à vaga. Ele realmente não estava impressionado...

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